segunda-feira, março 26, 2007

Os Grandes Portugueses

Em primeiro lugar, gostava de manifestar o meu desagrado para com as estações televisivas RTP e TVI, pois acho que deviam ter chegado a um acordo quanto aos horários de exibição de dois programas de elevado valor cultural, que ontem foram para o ar em simultâneo, já que deste modo os telespectadores foram privados de assistir aos dois. Falo evidentemente de "Os Grandes Portugueses" e "A Bela e o Mestre". Pessoalmente, achei mais interessante visionamentalizacionar (obrigado, Ricardo Araújo Pereira, pela expressão) o programa da RTP, e já sei que muitos de vós me irão condenar por preferir o programa mais básico e sensacionalista, mas enfim. E vi-o sempre com aquela impaciência para saber qual o vencedor, se Salazar, ou então, por outro lado, vá lá, Salazar. E acabou por ser (imagine-se!) Salazar a recolher a esmagadora maioria dos votos dos portugueses.
Na minha modesta opinião, penso que o programa seria mais sério se não fosse realizada esta votação final. Passo a explicar: os dez finalistas do concurso são já uma boa amostra das personalidades que mais marcaram a História de Portugal, apesar de muitas e muitas outras figuras importantes não lá figurarem, mas pronto, são só dez. Agora, aparecer um vencedor, considerado pelos portugueses como o maior Português de sempre, parece-me demasiado pesado. Sobretudo quando esse vencedor é um ditador sanguinário... Mas também, ao que parece, nos Estados Unidos, George W. Bush aparece em quarto lugar numa lista do género, portanto... Não é que eu não aprecie a figura de Salazar, pois foi sem dúvida um Português exemplar. Nada que ver com isso. Simplesmente acho que haver um vencedor neste programa, é mau.
Na gala de ontem, diverti-me imenso a escutar as declarações inflamatórias de Odete Santos (essa, a maior corta-tesão de Portugal), sobretudo na parte final do programa, quando foram conhecidos os resultados. Afirmou ela, indignada: "a apologia ao fascismo é proibida pela Constituição! Proibida!" Desde quando é que a votação num concurso é apologia ao fascismo? Bolas, esta mulher é divertida. Sobretudo quando defende um candidato que no fundo, era do mesmo saco de Salazar: um radical político, só que em vez de ser à direita, era à esquerda. Faz toda a diferença, de facto. Se alguém tortura e oprime, e é da direita, é um monstro, um desumano. Se porventura, tortura e oprime, mas é da esquerda, é um bom comunista. Podem chamar-me tolo, que eu aceito. Aliás, costumo, eu próprio, fazê-lo repetidamente, condenando-me pelas bacoradas que profiro. E também costumo bater com a cabeça na parede... Enfim...
Eu tenho uma ligeira simpatia pelos regimes ditatoriais do passado. E isto porquê? Não, não sou nenhum anti-semita nem acho piada ao bigode do Hitler. Simplesmente acho que, por exemplo no caso de Portugal, estávamos bem melhor com Salazar do que com esta numerosa cambada de inúteis que têm governado o país de 1974 para cá. Com Salazar no poder, Portugal registou o maior crescimento económico anual de sempre, em largos anos consecutivos. E como alguém muito bem disse no programa de ontem, "prender alguém com base nas suas convicções políticas é tão cruel como despedir alguém tendo como motivo a sua idade". Bem sei que não é um regime perfeito, muito longe disso. Por exemplo, se estivéssemos num regime ditatorial, eu não poderia estar a escrever estas coisas, e caso o fizesse, amanhã estaria no Tarrafal. Poderão ter melhorado muitos aspectos sociais com a Revolução, como a liberdade. Mas bem sabemos que essa prometida liberdade é muitas vezes parcial, ou não é verdade? Contudo, no geral, o país só piorou desde então, arrastando-se de crise em crise, até hoje. Bom, não quero com isto tornar este post numa discussão política, embora me pareça que o acabei de fazer. Peço desculpa por isso, porque se há coisa mais deprimente que este blog, essa coisa será certamente a discussão política.
Notas finais: não desculpo a RTP e a TVI por me terem feito tomar uma decisão tão difícil (optar entre "Os Grandes Portugueses" e "A Bela e o Mestre"). Para o caos ser total, só faltava a SIC ter colocado um especial "Floribella". Ainda bem que tal não aconteceu. Os meus parabéns à RTP, por ter criado o único concurso onde quem ganha é um morto (todos os dez finalistas já faleceram, o que nos leva a concluír que os nossos contemporâneos são todos uma m***a). Alguém sabe se a RTP emite para o céu? Senão, como é que os grandes portugueses vêem o concurso em que participam? Irónico também é o facto de Salazar ter ganho, de forma democrática, alguma coisa. Deve estar aos pulos na campa...