segunda-feira, junho 20, 2011

O Metro é para as aldeias!

O Metropolitano é, enquanto meio de transporte urbano, extremamente sobrevalorizado. Senão repare-se, nas cidades o que não faltam são meios de transporte: autocarros, eléctricos, táxis, barcos, viaturas pessoais, bicicletas, segways, patins, etc. O metro é apenas mais um, e portanto a sua importância nas cidades é relativa. Por exemplo, quando o Metro do Porto decide fazer greve, as pessoas apanham um autocarro e chegam ao seu destino a tempo e horas.
Ora, desta forma, onde é que me parece que um sistema de metropolitano pode realmente ser útil à população? Nas áreas onde não há nenhum dos meios de transporte acima referidos: nas aldeolas e lugarejos de Portugal. E mais: para além da falta de meios de transporte, é historicamente factual que as populações rurais sofrem de dificuldades em se locomoverem em distâncias superiores à que medeia entre a cozinha e o quintal, o que pode ser explicado pela média de idades superior a 70 anos, e consequente panóplia exorbitante de maleitas adquiridas ao longo da vida. São, por assim dizer, populações enfezadas, vá.


Agora imaginem-se alguns dos benefícios da instalação de uma rede de metro num destes locais:

  • Protecção dos direitos dos animais de carga, tais como burros ou bois, que passam a servir de facto para o transporte de cargas e não para o transporte de velhos mandriões;
  • Prosperidade económica da terriola, com a garantia de conectividade entre os principais pólos geradores de riqueza como o talho ou a mercearia;
  • Desobstrução do trânsito de peões que circula habitualmente a 0,02 km/h;
  • Diminuição da poluição sonora causada pela deambulação de bengalas e muletas, assim como por gemidos e lamúrias;
  • Diminuição da poluição atmosférica, com a diminuição de espirros e catarreiras na via pública, passando estes a ser maioritariamente perpetrados no interior do metro (serão disponibilizadas máscaras gratuitas à entrada para os visitantes que pretendam evitar apanhar uma doença (diz-se para os visitantes, partindo do princípio que os habitantes não quererão perder a oportunidade única de assim contraírem um pack de doenças endémicas));
  • Possibilidade de criação de um centro de investigação científica, pois em resultado do referido no ponto anterior, as composições do metro passarão a funcionar como autênticas incubadoras de vírus e bactérias, que dada a proliferação e diversidade previsível, poderão tornar-se caixas de Petri ferroviárias e proporcionar uma condensação da evolução daqueles seres no tempo para formas de vida superiores (quiçá, inteligentes) dentro dos próprios veículos.

Esta última vantagem é claramente fruto de um excesso de optimismo da minha parte, mas todas as outras são óbvias para quem consiga olhar este projecto com seriedade e não tenha, por assim dizer, palas.
E como não sou indivíduo de me ficar por palpites dispersos, já elaborei, inclusivamente, um projecto. É um projecto genérico, elaborado para uma terriola ao acaso, mas que pode ser facilmente adaptado a qualquer pequena povoação rural, porque no fundo, são todas iguais.




Projecto para uma rede ferroviária de transporte público para a localidade de Crefodita:


Aspectos gerais:
  • O nome "metropolitano" refere-se a "metrópole", e como este projecto se trata de uma adaptação à realidade rural, não será instalado numa metrópole, mas sim numa aldeópole. Deverá ser assim designado por "aldeopolitano", ou na sua forma abreviada, "aldeo";
  • Deverá ser criada uma empresa responsável pela administração do Aldeopolitano de Crefodita, cuja direcção deverá ficar, fruto da conjuntura e das directrizes já providenciadas nesse sentido, a cargo do filho e do sobrinho mais velho do presidente da junta;
  • As linhas deverão ser, na sua totalidade, enterradas. Desta forma, conseguem preservar-se os valores de manutenção da paisagem rural e agrícola, e por outro lado, obter para a localidade um sistema livre do cheiro a estrume;
  • A tuneladora "Micas" deverá ser alugada para a tarefa da criação dos túneis e estações do aldeopolitano. Depois de ter conseguido esburacar os duros granitos do Porto, é comprovadamente a opção mais acertada para perfurar os depósitos de estrume cretáceo presentes no subsolo profundo de Crefodita;
  • As estações deverão reflectir a tradição e História da terra, e como tal deverão contar diariamente com a presença de uma vaca leiteira em cada extremidade da plataforma, e aos domingos será sempre efectuada a matança de um porco numa estação definida por sorteio. A decoração ficará a cargo do pintor Ernesto "Coibes" Rego, responsável pelas obras "A espiga de milho", "A vaca que pariu um boi" ou "Na moita me fodi". As "vending-machines" deverão disponibilizar aos utentes do aldeopolitano produtos como mini-broas, sandes de presunto, couratos, tremoços e tiras de queijo de cabra, assim como copos de vinho branco ou tinto, verde ou maduro;
  • Em questões de segurança, o aldeopolitano primará pela excelência. Será contratado um "abafador" por estação para auxiliar os utentes que lidem mal com as diferenças de pressão. Elementos da GNR serão destacados sempre que haja o relato da invasão de estações por javalis ou ratazanas de grande porte. Para além disso, será criada uma empresa de segurança privada que vigiará em permanência as estações e composições do aldeo. Esta empresa será gerida pelo genro do presidente da junta;
  • As composições do aldeopolitano utilizarão uma bitola estreita de 350mm, que permitirá a realização de curvas mais apertadas, nomeadamente ganchos e rotundas. As composições serão baseadas em material circulante da antiga mina de cobre e serão locomovidas por um conjunto de 60 motores Famel Zundapp 280-4V com sistema de inversão, providenciando 306 cavalos de potência e uma velocidade máxima de 55 km/h a descer. O comprimento de cada composição será de 70m, divididos por 7 carruagens, e providenciará lugar a 150 passageiros sentados, 1000 passageiros em pé, ou 80 passageiros deitados;
  • O desenho da linha deverá ser pensado tendo em conta os superiores interesses da população residente. Este ponto é impreterível, mas contudo poderá ser considerada a dinamização turística de Crefodita em alguns troços, como as ligações a partir da Estrebaria, ou a expansão futura para a localidade vizinha Tragute de Peiça.


Proposta de rede aldeopolitana para Crefodita:



Como se vê, trata-se de um projecto que vai de encontro às necessidades da população de Crefodita. As estações cobrem todos os espaços relevantes da localidade, desde os mais centrais aos mais periféricos. Na sua parte mais central, a distância média entre estações é de 30m, o que significa que por vezes a mesma composição poderá estar parada em duas estações simultaneamente, servindo de forma muito eficaz a população. Já nas zonas mais periféricas, a distância média entre estações ronda os 2000m. A futura ligação à localidade mais próxima, Tragute de Peiça, terá uma extensão de 70kms, também ela sempre no subsolo profundo, de modo a não perfurar as montanhas da região, que constituem paisagem protegida. Será um serviço expresso, sem paragens, com uma previsão de tempo de viagem de 2h25. Como tal, não é de prever que nele circule alguém para além do maquinista. De qualquer modo, o presidente da junta de freguesia, Necrotério Panela, já se pronunciou sobre a importância crucial deste troço para o desenvolvimento da região, assim como o presidente da junta de freguesia de Tragute de Peiça, o seu primo Clotoaldo Recto.
O contrato assinado com a Mota-Engil prevê um orçamento de 170 mil milhões de euros (50 mil milhões de euros para a primeira fase de construção, e 120 mil milhões de euros para a segunda fase), com uma derrapagem financeira estimada na ordem dos 700%. O apoio bancário será prestado pelo Banco Panela, com uma taxa de juro na ordem dos 325%. O valor total da dívida deverá ser liquidado pela autarquia ao cabo dos próximos 5 milhões de anos.