quarta-feira, julho 04, 2012

O bosão de Relvas

Se porventura são, como eu, leitores assíduos deste espaço, terão reparado que a qualidade do último texto aqui publicado era tão exuberante que o texto já cá não está. Sim, estava assim tão mau. Felizmente, estou a escrever para um público imaginário e como tal, nunca serei gozado pelo tal texto. Assim, hoje decidi escrever algo com alguma qualidade, e como tal não me vou alongar muito sob pena de quebrar esse objectivo.

Hoje é um dia histórico! Rejubilemos, pois os cientistas do CERN descobriram a chamada "partícula de Deus", o bosão de Higgs. É um passo imensamente grandioso para a Ciência, apesar de o bosão ser uma partícula imensamente minúscula. De facto, mais minúscula que ela só mesmo a licenciatura do ministro Relvas, também ela descoberta recentemente no Grande Colisor de Hadrões, escondida atrás de um neutrino.
Pois é, parece que o ministro Relvas é afinal um sobredotado e fez num ano aquilo que uma pessoa normal faz em três (ou mais, vá). Licenciou-se em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Lusófona em 2007, depois de se ter matriculado na mesma em 2006. E assim se explica a razão de Passos Coelho ter apostado no Relvas para esta legislatura: tal como mostrou ser capaz de encurtar a realização de um curso superior de três para um ano, Passos espera que o Relvas ajude a encurtar o período de ajuste económico do país para um terço também, cumprindo assim o calendário da troika. Do mesmo modo, Passos tem fé que o Relvas consiga baixar o salário mínimo de 485 para 162€, reduzir os dias de férias de 22 para 7, e cortar no número de deputados do PCP na Assembleia de 14 para 4,7. Já Jorge Jesus estará à espera que o Relvas reduza o número de contratações de Verão de 300 para 100.
Sabe-se também que o Relvas conseguiu esta proeza através das equivalências académicas. O chamado Conselho Científico da Lusófona olhou para o currículo do Relvas e depressa concluiu estar em presença de um cérebro de nível superior. Tendo em conta a sua experiência profissional, as 36 cadeiras distribuídas por seis semestres que o Relvas teria que completar transformaram-se em 180 créditos académicos obtidos, figurando apenas uma cadeira (Ciência Política e Direito Constitucional) à qual o Relvas prestou prova escrita e oral em 1985, aquando da sua passagem pelo curso de Direito na Universidade Livre, e onde obteve a meritória nota final de 10 valores. Tenho para mim que esta nota foi obtida pelo método Taveira (parece-me que a informação sobre a parte oral da avaliação não apareceu por simples acaso). Resumindo, o seu percurso académico é muito rico e diversificado. Rodou por quatro cursos superiores: Direito (1984, Universidade Livre, uma cadeira feita); História (1985, Universidade Livre, sete cadeiras frequentadas, nenhuma feita); Relações Internacionais (1995, Universidade Lusíada, nenhuma cadeira frequentada); Ciência Política e Relações Internacionais (2006, Universidade Lusófona, licenciado em 2007).
Genial este Relvas, não concordam? Mais uma mente brilhante neste nosso país. Aliás, dada a genialidade mais que evidente do senhor, considero uma injustiça e até mesmo uma provocação mesquinha o valor da média final de curso que a Lusófona lhe atribuiu: 11 valores. Então se o homem fez apenas uma cadeira na vida com 10 valores e teve equivalências para as 36 cadeiras do curso que o licenciou (uma das quais terá resultado da cadeira feita com 10), sou matematicamente obrigado a concluir que os senhores da universidade avaliaram o seu currículo profissional com nota 11, e fizeram a média ponderada. Mas que é isto? Que brincadeira vem a ser esta? Toda a gente sabe que numa situação destas o mais correcto a fazer seria somar os dois valores e pronto. O Relvas teria terminado com média de 21, o que está mais condicente com o seu perfil, sejamos justos. Até porque 21 é um número que mede simbolicamente o número de anos que vão desde que o Relvas faz uma cadeira e a altura em que se decide licenciar. Portanto fica aqui uma nota de repúdio pela forma como foi determinada a média do Relvas. E talvez como subtil forma de vingança (ou então apenas porque o mundo é pequeno e há demasiadas coincidências), um indivíduo que foi professor do Relvas na Lusófona (e que digo eu, deverá ter participado na confecção desta licenciatura liofilizada) é actualmente Secretário de Estado do Relvas. Toma lá um cargo absolutamente desprestigiante e mal remunerado que é para aprenderes. Bravo, Relvas, bravo. A ti ninguém te passa a perna.
Basicamente, temos um governante que devia estar a aplicar a sua invulgar inteligência no CERN, na procura de respostas para a nossa existência, e não a tratar de assuntos menores como governar Portugal. Já o estou a imaginar a desbaratar tudo o que sabemos sobre Física, e a postular as suas próprias leis. Assim de repente, julgo-o capaz de provar experimentalmente que afinal a velocidade da luz pode ser ultrapassada, nomeadamente por licenciaturas na Lusíada, que viajam a uma velocidade três vezes superior. E a partir daí imaginem-se as implicações e possibilidades.
Na verdade, Relvas é intelectualmente tão portentoso e fascinante que prevejo que lhe seja atribuído um mestrado antes do próximo fim-de-semana. E um doutoramento ao pequeno-almoço de domingo.

Agora a sério, Portugal precisa é disto. Um corta-Relvas.