terça-feira, dezembro 03, 2013

Sexismo javardo


Já passou tanto tempo desde que aqui vim pela última vez, que tenho quase a certeza que estou a escrever para uma bancada completamente nova, pois os leitores anteriores muito provavelmente já faleceram. Sejam pois muito bem vindos a esta coisa. Ah, espera! Ninguém lê isto... Pois bem, vou continuar a escrever para mim. Sempre é melhor do que estar a atirar o meu gato cego ao ar enquanto bebo cafés, e vejo se ainda vou a tempo de o apanhar antes que ele se espatife na minha tijoleira forrada com pioneses. Bom, vamos a isto.
Porque raio é que coisas já de si repugnantes tendem a parecer-nos ainda mais nojentas quando é uma mulher a levá-las a cabo em vez de um homem? Por exemplo, o velho hábito português de cuspir para o chão. Se formos na rua e virmos um homem a cuspir para o chão, não há dúvidas de que reprovamos o acto e o achamos nojento. Mas três segundos depois já somos capazes de continuar a escrever a mensagem para a namorada e nem sequer nos esquecemos de que o assunto era o fio dental guloso que a marota tinha estreado no dia anterior. Por outro lado, se em vez desse homem a gente calha de se cruzar com uma mulher que, ao passar por nós, vira a cara para o lado, puxa bem fundo, e com toda a pujança atira uma lapa direitinha à base de um arbusto, aí o caso muda de figura. A náusea que nos invade é de tal ordem que nem que passasse ao nosso lado um carro de campanha do PCP a tocar "A Carvalhesa" conseguiríamos voltar à realidade. E nem que déssemos de caras com um cartaz publicitário com as mamas da Bárbara Norton de Matos iríamos ter sucesso em esquecer toda aquela asquerosidade condensada em meras fracções de segundo. E tudo isto porque em vez de um homem, era uma mulher.
O que é que nos leva a achar que, pelo simples facto de ser mulher, uma pessoa não pode sentir vontade de cuspir um pedaço de gosma quando vai a caminho de casa? Eu não sei, mas desconfio que é pelo mesmo motivo que nos leva a acreditar que as mulheres, contrariamente aos homens, não possuem actividade intestinal. Dá-se-nos uma comoção cerebral só de imaginar uma mulher a levantar uma perna para facilitar o escape de um gás trepidante. Muitos de nós recusam-se a acreditar que as mulheres soltam bufas. E quase ninguém consegue supor uma mulher capaz de arrear o calhau. Os poucos que, quando inquiridos, afirmam acreditar no trânsito intestinal feminino (são aqueles que viram anúncios do Activia com a Júlia Pinheiro), convencem-se de que a flatulência feminina cheira a rosas e de que as fezes são pudins flan. Possivelemente, isto tem que ver com o endeusamento da figura feminina na nossa sociedade: esperamos das mulheres nada menos que a perfeição. Ora, isto não se coaduna minimamente com biscas e puns. Esses traços de badalhoquice ficam reservados para o macho, figura perfeitamente adequada para a mediocridade. O nojo casa bem com o homem. O homem presta-se naturalmente à repugnância, seja criando um géiser barulhento entre as nádegas ou participando num concurso de lançamento de lulas, onde para além da distância do voo são também avaliadas a cor, consistência e som de aterragem do asco. Já para não falar do facto de os homens estarem equipados com uma útil ferramenta excretora, que lhes permite urinar mantendo a posição bípede. O que juntando ao facto de serem javardos, leva a que sejam frequentemente vistos a aliviarem-se em cantos e esquinas de prédios, competindo com os cães pela marcação de território.
Bom, o que é certo é que há coisas que nos parecem mais próprias dos homens do que das mulheres. E regra geral, quanto mais nojentas, mais próprias de homens são. Não será altura de pararmos com isto? Não terão as mulheres iguais direitos à imundície? De que raio lhes adianta poderem votar se não podem arrotar? Vá lá, temos de nos mentalizar que a única diferença é mesmo no sexo: eles macacos, elas macacas. De resto, a macaquice é a mesma.